O tratamento pós-operatório com os stents farmacológicos, prótese metálica de última geração que além de desobstruir as artérias libera drogas, acaba de mudar e vai pesar no bolso. Isso porque estudos apontaram que eles são menos seguros do que se imaginava, obrigando o paciente a ingerir drogas por mais tempo. Depois da implantação de qualquer stent, o paciente tem de usar dois remédios para evitar a coagulação do sangue o ácido acetilsalicílico e o clopidogrel. Com o stent comum, o uso do clopidogrel é normalmente suspenso depois de um mês. Com o farmacológico, depois de três meses.
Agora, o uso de clopidogrel para pacientes com stents que liberam drogas será por tempo indeterminado¨, explica o cardiologista Expedito Ribeiro da Silva, supervisor do Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do Instituto do Coração (Incor). O Sistema Único de Saúde (SUS) e os planos não cobrem o remédio . O tratamento de clopidogrel custa de R$ 160 a R$ 200 mensais.
Riscos
Outra mudança: O uso do farmacológico deverá ficar restrito aos pacientes de alto risco, como diabéticos e aqueles com lesões muito extensas , complementa o cardiologista Marcus Malachias, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas. As mudanças têm base numa meta-análise, estudo que avalia resultados de pesquisas sobre o mesmo assunto, discutida no último Congresso Mundial de Cardiologia, em Barcelona, no início do mês.
O trabalho concluiu que os stents farmacológicos são menos seguros do que se imaginava o risco de trombose, obstrução causada pela coagulação do sangue, pode dobrar após dois anos de uso. Com até um ano, o risco é de 0,6% tanto para o stent que libera remédios como para o stent comum , explica o cardiologista do Incor. Mas, depois de dois anos, o risco com o farmacológico dobra (1,2%) e, com o stent normal, se manteve igual (0,6%) .
A discussão fez com que o FDA, órgão americano que regula remédios e alimentos no país, divulgasse uma nota no dia 14, reafirmando a segurança dos stents farmacológicos, mas ressalvando que a vigilância deve ser mantida. A Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista também divulgou comunicado, dizendo que a discussão é relevante, mas não há motivo para não indicar o uso de stent. Mesmo assim, os números causaram surpresa entre os médicos e levaram às mudanças no tratamento. A expectativa era que o stent farmacológico viesse a substituir o comum em pelo menos 90% dos casos. Os dados podem não invalidar o uso, mas estamos bem mais cautelosos , conclui o cardiologista Malachias.
Dos cerca de 2 milhões de stents já implantados no mundo, 60% são farmacológicos. Nos Estados Unidos, a média é de 90%. No Brasil, já foram implantados cerca de 70 mil farmacológicos 40% do total. O SUS cobre o tipo balão (R$ 700) e o comum (de R$ 2 mil a R$ 3 mil). O farmacológico (de R$ 10 mil a R$ 12 mil) é pago por apenas alguns planos de saúde.