Em maio de 1912, nascia o professor Euryclides de Jesus Zerbini, que transformou profundamente a cardiologia brasileira e cuja influência perdura até hoje em seu maior legado para a medicina: o Incor - Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP.
A perspectiva de operar um coração, invadindo a sua intimidade pulsante com pinças e bisturis, ainda era um sonho inimaginável no longínquo 7 de setembro de 1912, quando nasceu Euryclides de Jesus Zerbini, na cidade paulista de Guaratinguetá. Mas quase meio século à frente, em 1958, um aparelho de circulação extracorpórea, fabricado nas oficinas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e réplica de um modelo desenvolvido nos Estados Unidos ainda naquele ano, iria propiciar às mãos do jovem cirurgião Zerbini a possibilidade de parar um coração para operá-lo.
Era o início de uma revolução que se daria em uma velocidade tão vertiginosa que meros seis anos depois já seria desenvolvida a técnica de revascularização do músculo cardíaco, o miocárdio, com ponte de safena, pelo argentino René Favarolo, na Cliveland Clinic, nos Estados Unidos. Mais quatro anos e já era possível a troca de um coração doente por outro são, no primeiro transplante da América Latina, um dos 20 primeiros do mundo, realizado pelo então Prof. Zerbini, no HC da FMUSP. Em 10 de janeiro de 1977, outro feito de Zerbini, este agora destinado a se estender por inúmeras futuras gerações. Com a força da sua vontade e abnegação, tem início o funcionamento do Incor – Instituto do Coração do Hospital das Clínicas, um centro de excelência em pesquisa, ensino e tratamento em cardiologia e pneumologia reconhecido no mundo todo. O professor viria a falecer em 23 de outubro de 1993, no próprio Instituto do Coração, onde estava internado.
Nesta sexta-feira, 17 de maio, o Incor realiza solenidade em comemoração à memória do Prof. Zerbini – com a presença de inúmeras autoridades políticas e da medicina -, seguida da inauguração da exposição “Zerbini: o Homem, o Cirurgião e o Cientista” que estará aberta ao público, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, no andar térreo do Instituto, localizado na Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44 – Cerqueira César.
No evento, serão expostos equipamentos, como a primeira máquina de circulação extracorpórea fabricada no Brasil, na década de 1950, documentos e fotos do Prof. Zerbini na intimidade da família e no convívio acadêmico, social e político.
Haverá também a exibição do filme “O Primeiro Transplante de Coração”, dirigido em 1968 pelo fotógrafo B.J. Duarte, por ocasião do primeiro transplante cardíaco da América Latina. Realizado em 26 de maio de 1968 pela equipe do Prof. Zerbini, e tendo como célebre paciente o lavrador João Boiadeiro, esse procedimento alcançou repercussão mundial e ocorreu apenas cinco meses depois do primeiro transplante feito pelo cirurgião Christian Barnard, na África do Sul.
“Zerbini: o Homem, o Cirurgião e o Cientista” pode ser visitada como quem percorre um túnel do tempo, no qual a extensão é medida pela evolução extraordinária da tecnologia médica nos últimos 100 anos, desde os primórdios da cirurgia cardíaca até as primeiras luzes do século XXI. Nesse meio tempo, as técnicas cirúrgicas evoluíram a ponto de conseguir reparar, atualmente, as mais delicadas estruturas do coração, inclusive em bebês recém-nascidos, e que prometem, no futuro próximo, avançar ao ponto de tornar possíveis intervenções mesmo na fase intrauterina. Essas mesmas crianças e jovens, no limite da doença, já podem ser beneficiados pelo transplante, aumentando o tempo e a qualidade de suas vidas, algo inimaginável nos anos 1960.
Tais cirurgias em jovens e crianças são um capítulo à parte na trajetória do Incor, maior centro de transplante de coração e de pulmão da América Latina. Nesse Instituto já foram realizadas mais de cem dessas cirurgias de alta complexidade em crianças e adolescentes. O futuro aponta agora para máquinas que, espera-se, possam substituir definitiva ou por longo tempo, e com boa qualidade de vida, os corações doentes. No Incor, que trabalha há 30 anos no desenvolvimento dessa tecnologia, oito pacientes se beneficiaram com o uso do coração artificial na espera para o transplante, sendo que dois deles estão vivos e em plena atividade profissional.
A década de 1990 conheceu o aperfeiçoamento de técnicas cirúrgicas cada vez menos invasivas e, em alguns casos, que dispensam o auxílio do suporte de circulação extracorpórea. Tais avanços permitiram a recuperação mais rápida do paciente e menos intercorrências no pós-cirúrgico.
Ao mesmo tempo em que cresceu em complexidade e refinamento, a cirurgia cardíaca passou a ser indicada mais tardiamente na vida do paciente, como decorrência do desenvolvimento de medicamentos cada vez mais modernos e eficazes.
Além das novas drogas, o aprimoramento da tecnologia em stents para cateterismo cardíaco também postergou a necessidade da terapia cirúrgica. Equipamentos de cateterismo mais modernos são utilizados na abertura de artérias comprometidas pelas placas de aterosclerose que, na sequência, têm suas paredes internas revestidas com essas minúsculas estruturas metálicas circulares semelhantes a um bobe de cabelo. Esses stents são recobertos com medicamentos que inibem a reoclusão da artéria devido ao processo de cicatrização. O Incor participou do desenvolvimento do primeiro stent brasileiro, que acaba de ser lançado com boas perspectivas de venda também no mercado internacional.
Maior obra do Prof. Zerbini, o Incor coleciona números grandiosos em que melhor se reflete a importância da cardiologia brasileira no cenário internacional. O Instituto é um dos três maiores centros de cardiologia do mundo em volume de atendimento e número de especialidades da cardiologia reunidas. Quando se leva em conta o total de trabalhos aceitos nos principais congressos da especialidade, realizados na Europa e nos Estados Unidos, o Instituto está rankeado como o maior centro de ciência em cardiologia da América Latina.
É, ainda, celeiro da formação de grandes nomes da medicina brasileira: 7 dos 11 maiores cardiologistas brasileiros do século XX são do Incor, segundo a SBC - Sociedade Brasileira de Cardiologia (2004).
Desde 10 de janeiro de 1977, quando foi inaugurado, o Incor prestou atendimento médico a pacientes de todos os Estados brasileiros, de toda América Latina, da América do Norte, Europa e Ásia, realizando mais de 38.350.287 exames de diagnóstico, 4.155.664 consultas ambulatoriais, 86.584 cirurgias, 255.202 estudos hemodinâmicos, incluindo cateterismos, angioplastias e ablação para tratamento de arritmias.
Somando-se as pesquisas clínicas e as básicas aplicadas, a atuação do Incor na ciência e tecnologia nesses anos resultou em 5.720 estudos - 3.623 deles publicados em revistas nacionais e 2.097 em internacionais. No universo dessas pesquisas, mais de 20 originaram patentes ou produtos, como próteses, tubos, máquinas e equipamentos diversos atualmente em uso na área médica.
A difusão da expertise científica do Incor alcançou plateias do mundo todo, por meio da participação de seus especialistas em 31.366 eventos científicos nacionais e internacionais, incluindo aulas e simpósios.
O Incor realiza em média por ano: 260 mil consultas médicas; 37 mil atendimentos multiprofissionais; 13 mil internações; 5 mil cirurgias; 2 milhões de exames de análises clínicas; e 330 mil exames de diagnóstico de alta complexidade
SERVIÇO
EXPOSIÇÃO “ZERBINI: O HOMEM, O CIRURGIÃO E O CIENTISTA”
Data: 17 de maio a 17 de agosto de 2012, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h.
Local: Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP)
Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44 – Cerqueira César – São Paulo/SP.
INFORMAÇÕES PARA A IMPRENSA
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