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TISS: Saúde atrasa uso de padrão eletrônico
05/09/2006

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) deverá adiar, mais uma vez, os prazos estabelecidos para a adoção do padrão eletrônico que pretende simplificar a comunicação entre as operadoras de saúde e os 600 mil prestadores de serviços médicos de todo o país.
Os hospitais ligados a convênios, que tinham até novembro para passar a trocar dados de maneira 100% eletrônica com as operadoras, agora terão até maio do ano que vem. Já os consultórios médicos e odontológicos, que trabalhavam com o prazo de dezembro de 2007, deverão ganhar pelo menos mais 12 meses. A informação deve ser divulgada nos próximos dias pela agência. Essa será a segunda vez que a ANS prorroga seus prazos. No início deste ano, a meta de adequação, ao menos para os hospitais, era agosto.
A decisão põe o pé no freio de um dos projetos mais ambiciosos do setor de saúde privada em andamento no país. Batizado de Troca de Informações em Saúde Suplementar (Tiss), a iniciativa da ANS começou a ser desenhada em 2003, quando a entidade recebeu o apoio de R$ 600 mil do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para implementar o programa.
Depois de mais de R$ 1 milhão investidos, um comitê formado por empresários do setor, representantes do governo e universidades formalizaram um padrão de comunicação e sistemas para simplificar o intercâmbio de dados gerados com o atendimento médico prestado a 42 milhões de clientes.
Embora compulsório, o fato é que o novo regime proposto pela ANS chega para atender a um anseio antigo do setor. Divido em quatro categorias, o projeto procura dar um fim ao caos que hoje reina na saúde, ao contemplar a unificação da estrutura de dados gerados, do uso de conceitos em saúde e da forma de comunicação utilizada, bem como os critérios de segurança e privacidade.
Prestadoras farão maior parte do investimento
Embora a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) ainda desconheça o tamanho do impacto financeiro de seu padrão tecnológico, a gerente-geral de integração da entidade, Jussara Macedo, avalia que a maior parte dos investimentos em tecnologia deverá recair sobre as operadoras de saúde, que precisarão de uma base capaz de suportar transações de milhares de prestadores associados. As principais empresas do setor confirmam a tese.
"Temos todo o interesse em investir nisso. Hoje, cada operadora trabalha com um tipo de formulário e uma infinidade de termos para tratar da mesma coisa", diz o diretor de operações da Sulamérica Saúde, Marco Antunes. "O Tiss elimina o uso de papel, padroniza a linguagem e transmite os dados em tempo real."
A empresa reservou R$ 750 mil para se adequar ao Tiss, caminho que tende a ser seguido pelas 2,1 mil operadoras de saúde ativas no país, cujos gastos anuais estimados com tecnologia atingem cerca de R$ 1,8 bilhão.
Os estímulos da modernização não se limitam a benefícios como avaliações clínicas mais acuradas ou identificação de possíveis surtos epidemiológicos. Com a troca eletrônica de dados, as operadoras querem reduzir custos administrativos com gestão de documentos, além de minimizar o volume de glosas, situação em que a operadora atrasa o pagamento a hospitais devido a erros ou dúvidas com relação aos serviços descritos nos formulários de cobrança. Estimativas do setor dão conta de que 8% das transações realizadas pelas operadoras resultam em glosas.
Dos cerca de R$ 210 milhões pagos mensalmente pela Sulamérica aos seus 30 mil prestadores de serviços de saúde, cerca de R$ 6 milhões acabam sendo retidos em averiguações, dinheiro que só será pago semanas depois.
O padrão da ANS também deve morder um terço do orçamento de TI do grupo Samcil, que gasta cerca de US$ 3 milhões por ano com tecnologia. A empresa, que acaba de injetar US$ 2 milhões na atualização de seu parque tecnológico, trabalha agora na adequação de seu sistema de gestão empresarial. A projeção de Wylson Tadaharu Yoshikawa, gerente de TI do grupo, é reaver o investimento sobre o Tiss entre dez e 12 meses.
Operação semelhante é feita na Golden Cross, que estruturou grupos de trabalho para implantar o sistema. O investimento de R$ 500 mil deste ano, segundo o superintendente de TI, Marcos Augusto Furtado Leite, está orientado a softwares para análise de contas médicas e autorização de atendimentos em tempo real, mas tudo já integrado ao padrão da ANS.
Mesmo prevendo que os prazos de adequação com os hospitais serão estendidos para o ano que vem, as grandes operadoras preferem dar continuidade ao trabalho, mantendo o cronograma atual de novembro. "Nós temos que fazer isso acontecer, independentemente da ANS", afirma o diretor técnico da Amil, Antonio Jorge Kropf.
Com 1,85 milhão de clientes, a Amil já começou a implantar as regras do sistemas em seus 12 hospitais, o que também será levado aos centros de diagnósticos e consultórios. "Temos uma parque bem estruturado de TI, nosso custo de hardware será praticamente zero", diz Kropf. "Quanto ao desenvolvimento de sistemas, temos 12 pessoas internas trabalhando nisso."
O uso intenso de equipes internas também é a estratégia da Bradesco Saúde, que neste ano conta com R$ 60 milhões em caixa para gastar em TI. "Já estamos testando o sistema com operadoras no Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte", diz o diretor-geral da empresa, Heráclito de Brito Júnior.
Já na Unimed Paulistana, que atua em regime de cooperativa médica, o padrão da ANS levou a buscar formas de atualizar as máquinas dos seus associados. A empresa, que reúne 1,8 mil médicos cooperados, firmou parceria com a fabricante de computadores Dell para intermediar a aquisição de máquinas. A expectativa de Caio Fábio Figliuolo, diretor clínico do Hospital Santa Helena, controlado pela Unimed Paulistana, é investir cerca de R$ 2,2 milhões na aquisição de novos micros. "Acreditamos que cerca de 1,2 mil médicos comprarão máquinas novas nos próximos 12 meses."
Exceção à regra, grande hospital já se prepara
Se entre as operadoras de saúde a padronização para troca de dados já é assunto recorrente, o mesmo parece não se confirmar entre os 600 mil prestadores de serviços do país, entre hospitais, clínicas, laboratórios e profissionais liberais espalhados pelo país. "Vemos com grande preocupação o cumprimento desse trabalho por parte dos prestadores", diz o gerente de TI do grupo Samcil, Wylson Tadaharu Yoshikawa. "Tem muita gente que ainda nem sabe o que está acontecendo", ressalta.
Regularmente, a ANS tem realizado palestras para discutir o tema com o setor. Informações detalhadas sobre o assunto também estão disponíveis no site da agência, assim como um sistema de referência para adoção do padrão.
Exceção à regra são os maiores hospitais do país, onde a padronização da ANS virou um sub-projeto do setor de TI. "Colocamos o sistema entre as nossas prioridades, mas sem mexer no orçamento", diz Antonio Galera, superintendente de tecnologia do Sírio-Libanês, hospital que destina R$ 6 milhões por ano à área de informática.
No Samaritano, 16 profissionais foram envolvidos diretamente na implantação do Tiss. Segundo o superintendente de controladoria e finanças do hospital, Sérgio Lopez Bento, o trabalho interno minimiza impactos nos R$ 5,5 milhões reservados para tecnologia.
Para o hospital Santa Catarina, a chegada do padrão eletrônico culmina na adoção de um novo sistema de gestão empresarial. A troca de uma ferramenta caseira por um produto de mercado tem início neste mês. Com a mudança, o orçamento anual de TI, que normalmente gira em torno de R$ 1,1 milhão, atingirá R$ 3 milhões. "Vamos aproveitar a implementação do ERP [enterprise resource planning], que já chega adequado aos processos do Tiss", diz o coordenador de informática Luiz Cláudio de Lima e Sá.
As mudanças também têm início no Nove de Julho. Para evitar riscos de pane, nos próximos dias o hospital começa a enviar dados no padrão da ANS para três seguradoras. "Estamos mergulhados nisso. Em novembro, independente de qualquer coisa, estaremos prontos", garante o gerente de TI do hospital, Luiz Carlos Suart. O mesmo critério pauta o Albert Einstein, que deve gastar R$ 34 milhões em TI neste ano, metade na aperfeiçoamento de seu prontuário eletrônico. "O Tiss não mexe com gastos de TI, mas com nossos processos", diz o superintendente do Albert Einstein, José Henrique Germann. "Logo deixaremos de viver nessa torre de babel."

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