O número de cesarianas realizadas nas maternidades brasileiras dá um sinal de alerta. De acordo com o Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos, (SINASC) do Ministério da Saúde, as cesáreas representaram, em 2004, mais de 41% dos partos realizados no país. A Organização Mundial de Saúde (OMS) aconselha que esse percentual não ultrapasse 15%. A instituição acredita que, feito de forma indiscriminada, o parto cirúrgico pode trazer sérios danos à saúde da mãe e do bebê.
Na tentativa de encontrar um equilíbrio, o Ministério da Saúde desenvolve uma política para redução das cesáreas desnecessárias. Nos próximos meses, uma campanha veiculada nos principais meios de comunicação conscientizará a sociedade sobre os benefícios do parto normal.
O Ministério da Saúde também organiza uma publicação para estimular a redução do número de partos cirúrgicos. Esse material pretende levar informações a profissionais de saúde e também a gerentes de serviços, como diretores de hospital e gestores estaduais e municipais. As grávidas e familiares receberão fôlderes com esclarecimentos sobre as vantagens do parto normal, o cesáreo e também sobre os benefícios da presença de um acompanhante de sua escolha.
Alguns fatores como a conveniência de agendar o parto e o medo da dor levam muitas brasileiras a preferir o parto cirúrgico. “A cesariana deve ser feita somente quando há risco para a mãe e/ou para o bebê. Nas demais situações deve-se optar pelo parto normal”, recomenda a técnica da área da Saúde da Mulher, Daphne Rattner. “É muito importante contar com a tecnologia mas ela tem sido usada inadequadamente no nosso país e por isso está trazendo um risco adicional para as mulheres e para os bebês”, diz.
Estudos da OMS associaram o elevado percentual de partos cesáreos aos altos índices de mortalidade materna e infantil, inclusive em países desenvolvidos. O procedimento também está associado à maior probabilidade de internação para a mãe e para o recém-nascido. Complicações potenciais para a parturiente incluem lacerações acidentais, hemorragias, infecções, além de reações indesejáveis à anestesia. Além disso, a pessoa submetida a qualquer intervenção cirúrgica precisa de mais tempo para se recuperar.
O recém-nascido também pode correr riscos. O parto cirúrgico está associado à maior freqüência da síndrome da angústia respiratória (complicação ligada à prematuridade). Segundo especialistas, o trabalho de parto exerce um papel fundamental para o desenvolvimento do sistema respiratório das crianças. As contrações ocorridas durante o parto normal liberam substâncias que ajudam no desenvolvimento do pulmão e estimulam os movimentos de sucção do bebê, o que facilita o sucesso da amamentação. Como, algumas vezes, a data das cesarianas leva em consideração a conveniência do médico e da mãe, independente do início do trabalho de parto, muitas crianças nascem sem que os pulmões estejam completamente capazes de fazer com que respirem de forma independente.
A cesariana também custa caro. A realização da cirurgia implica mais gastos para o sistema de saúde e para a sociedade, com maior consumo de recursos hospitalares (centro cirúrgico, leitos/dia, medicamentos, cuidados de enfermagem, etc), e a necessidade de contabilizar o custo de prováveis complicações decorrentes da cirurgia
Capacitação – O Ministério da Saúde atua em duas frentes para reduzir o número de cesáreas desnecessárias. A primeira consiste na qualificação de profissionais para incentivar o parto normal. O Ministério promove seminários para as maternidades vinculadas ao SUS no intuito de conscientizar os profissionais em relação à necessidade de mudar práticas e humanizar partos.
Outra frente de atuação é o incentivo à redução das cesarianas. O Ministério da Saúde instituiu, em 2000, o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN), para assegurar acesso e qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto, do pós-parto e do neonatal.
Outra iniciativa da instituição foi a criação, em 1999, do prêmio Galba de Araújo, que gratifica as instituições modelo em atendimento humanizado. Para se candidatar, os hospitais devem priorizar o parto normal, o aleitamento materno e a presença do acompanhante. As instituições vencedoras recebem premiações que incluem uma escultura, uma placa de reconhecimento para a instituição e recursos em dinheiro para serem aplicados na melhoria da infra-estrutura do atendimento
Centros de Parto Normal - O Ministério da Saúde incentiva, desde 2001, a abertura de Centros de Parto Normal. O ambiente nesses locais procura proporcionar bem-estar às pacientes, com paredes coloridas e músicas relaxantes. Os quartos têm espaço suficiente para que a mulher se movimente à vontade, buscando posições que aliviem a dor, e banheiros para que possa tomar banhos quentes e relaxantes – o que proporciona alívio e atenua a espera.
A maioria dos Centros de Parto Normal tem a filosofia de atendimento humanizado, baseado em evidências cientificas. Integrados ao SUS, esses locais já se configuram como alternativa às mulheres que desejam ter seus filhos de uma maneira mais natural. “Quando a mulher chega ao Centro, ela é avaliada e pode ter o tempo todo ao seu lado um acompanhante da sua escolha. Assim ela se sente mais segura e tranqüila”, esclarece Daphne. “Nos Centros se pratica um modelo de atenção humanizada onde a protagonista do processo de parto é a mulher”, completa.
Aline Alves, 20, teve seu primeiro filho no Centro de Parto Normal do Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte (MG), por indicação da médica que acompanhou o pré-natal. Agora, na segunda gravidez, ela pretende ter o filho novamente no Sofia Feldman. Aline conta que durante o trabalho de parto pôde contar com o apoio do namorado, da mãe e da irmã. “Optei por ter o segundo bebê aqui porque meu parto anterior foi muito tranqüilo. Aqui você se sente dona do próprio corpo, não tem a aflição de um médico dizendo o que você deve ou não fazer”, comenta.