Potencialmente fatal, a hepatite C é uma das formas mais agressivas de hepatites causadas por vírus. Pouco conhecida pela população, a doença não apresenta sintomas e pode evoluir mais rapidamente de acordo com alguns fatores como: o consumo de álcool, drogas, sexo masculino e idade do paciente. Além disso, o estado clínico do portador, incluindo a presença concomitante de outras doenças como: Aids, diabetes e obesidade podem influenciar, de forma desfavorável, a evolução da doença.
Segundo o gastroenterologista e hepatologista Mario Pessoa, presidente da Associação Paulista para Estudo do Fígado, por se tratar de uma endemia silenciosa, que em 60% a 80% dos casos torna-se uma doença crônica, a hepatite C é hoje um sério problema de saúde pública mundial.
“Calcula-se que mais de 90% dos casos ainda não estejam detectados. As pessoas desconhecem sua condição de portadora, pelo fato da doença praticamente não apresentar sinais e sintomas que facilitem sua identificação”, destaca o especialista.
O médico alerta ainda que a idade no momento do contágio pode influenciar a progressão da enfermidade. “A chance de progressão da doença pode ser maior naqueles pacientes infectados com mais de 40 anos”.
Descoberta há pouco mais de 16 anos, a hepatite C raramente gera algum sintoma. O portador pode conviver com ela durante décadas, sem perceber o avanço da infecção, que pode culminar, a longo prazo, em cirrose ou câncer do fígado. Os pacientes cirróticos têm um risco maior de desenvolver câncer, o que ocorre com uma freqüência aproximada de 1% a 4% ao ano.
A estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que, no mundo, 170 milhões de indivíduos tenham a presença do vírus C no organismo. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, mais de 2 milhões de pessoas podem estar infectadas. Essa estatística eleva a hepatite C ao status de uma doença cinco vezes mais infecciosa do que a Aids. Segundo o Ministério, outro dado preocupante é que a hepatite C apresenta a taxa de mortalidade com maior crescimento no país, tendo aumentado 30,6%, em média, em 2005.
Transmissão do vírus da hepatite crônica C - O vírus da hepatite crônica C é transmitido por meio do contato direto com sangue humano contaminado, que pode ocorrer durante transfusões de sangue ou do uso de hemoderivados que não foram testados adequadamente. No entanto, com a prática universal do teste anti-HCV nos bancos de sangue, a partir de 1992, reduziu-se drasticamente o risco de contaminação. Atualmente, as formas mais comuns de contágio incluem o uso de drogas ilícitas com agulhas e seringas compartilhadas e acidentes com material perfurocortante contaminado, como lâminas, bisturis e agulhas.
Prevenção - Até o momento, não há vacina contra a hepatite C. O material médico deve ser manipulado com extremo cuidado por pessoas treinadas. Objetos de uso íntimo como escova de dentes e lâminas de barbear não devem ser compartilhados entre pessoas contaminadas e não contaminadas. Considera-se prevenção secundária evitar que a hepatite C evolua para estágios mais avançados nos indivíduos que já estão infectados pelo vírus (HCV). Para isso, o diagnóstico precoce, que é fundamental, pode levar ao tratamento os pacientes com sinais de doença no fígado e que, ainda, não estavam sentindo nada.
Viver no mesmo domicílio, almoçar na mesma mesa, apertar a mão, abraçar ou beijar uma pessoa com hepatite crônica C não apresenta nenhum risco de transmissão.
Diagnóstico - A hepatite C é diagnosticada por meio de exames de sangue. Na triagem, o exame usado é o anti-HCV. Este identifica as pessoas que tiveram contato com o vírus da hepatite crônica C. Normalmente, após o contato com o vírus, a doença torna-se crônica em até 80% das pessoas e o vírus persiste indefinidamente na circulação. Como aproximadamente 20% das pessoas expostas ao vírus o eliminam espontaneamente, é necessário um teste confirmatório em todos que possuem teste anti-HCV com resultado positivo (teste de triagem positivo). Este teste confirmatório é o PCR. Seu resultado positivo confirma que o paciente persiste com o vírus na circulação e pode, desta maneira, apresentar doença no fígado. Por fim, o grau (estágio) da doença no fígado será mais bem determinado pela biópsia hepática.
Chance de cura - A boa notícia é que a hepatite crônica C tem grande possibilidade de cura. Os pacientes que persistem sem o vírus por seis meses após o término do tratamento, ou seja, que obtém a chamada resposta virológica sustentada, deixam de estar sob o risco de complicações tardias da doença e não necessitam mais de tratamento.
A chance de cura da hepatite C vem de um tratamento à base de interferon peguilado (alfapeginterferona-2a [40 KD]) - uma molécula de última geração, que combinada com a ribavirina é capaz de curar até dois terços dos pacientes. Na prática, isso traduz uma chance de cura de aproximadamente 25% a 30% superior à verificada com os tratamentos convencionais. No caso dos pacientes com subtipo viral 1, a chance de cura é de 52%, e nos portadores dos subtipos 2 e 3, a chance sobe para 80% dos casos.