Acaba de chegar ao meio científico o primeiro periódico internacional da América Latina para servir como veículo de comunicação médica sobre doenças inflamatórias (desmielinizantes) e auto-imunes do sistema nervoso central. O Latin American Multiple Sclerosis Journal (LAMSJ) será um canal importante para apresentação de estudos regionais sobre novos campos de pesquisa que antes encontravam pouco espaço para publicação nos periódicos internacionais. A publicação é editada pela Atha Comunicação e Editora, e tem o apoio da Merck Serono – divisão de medicamentos biotecnológicos da alemã Merck.
Segundo o editor, Dr. Marcos Moreira, da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora, o número de artigos baseados em dados internacionais relacionados diretamente às doenças desmielinizantes cresce em taxas muito elevadas quando comparados às publicações sobre outras doenças neurológicas. “No entanto, os artigos que abordam características muito peculiares de países latino-americanos encontram dificuldade de aceitação em revistas internacionais de alto nível, sendo publicados em periódicos locais de neurologia geral e, muitas vezes, permanecendo desconhecidos para a maioria dos pesquisadores da área”, explica Moreira.
No Brasil, há um grande viés para novos campos de pesquisa, explica o Dr. Charles Peter Tilbery, Co-Editor da LAMSJ e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Como a Esclerose Múltipla é uma doença multifatorial, que depende de aspectos hereditários – como a predisposição em ter a doença –, fatores ambientais ainda desconhecidos e, eventualmente, de infecções adquiridas na infância para desenvolvê-la, há possibilidade de diferenças genéticas impactarem no processo evolutivo da doença.
“Estamos começando a desenvolver estudos sobre a miscigenação da genética no Brasil, que pode ser uma das razões de a evolução da doença no País aparentar ser mais benigna do que em países da Europa. Ao longo dos anos vimos observando que os pacientes brasileiros, num período de 10 a 15 anos, por exemplo, apresentam sequelas mais tardias em relação aos pacientes europeus. Acreditamos que seja em decorrência da forte miscigenação de raças, mais do que em função dos fatores ambientais. Gradativamente, vamos tentar traçar o perfil genético do paciente brasileiro e apresentar esses estudos na publicação”, ressalta Tilbery.
A Presidente da Associação Brasileira de Neurologia (ABN), Dra. Elza Tosta, vê a iniciativa de forma meritória. “Sabemos que não é fácil iniciar, manter, dar credibilidade e alcance a uma publicação, por isso entendemos que se trata de um projeto de longo prazo e que trará benefícios à classe médica e, consequentemente, aos pacientes. Só existe sentido no desenvolvimento de um trabalho como esse – de divulgar a prática neurológica brasileira – se for para levar novas possibilidades de tratamento aos pacientes”, comentou Tosta.
Na região sudeste do Brasil, há prevalência de 15 a 18 casos da doença para cada grupo de 100 mil habitantes. A estimativa é que existam 30 mil portadores de EM no Brasil, dentre os quais, aproximadamente 22 mil são mulheres.
Formato
O LAMSJserá o primeiro periódico do Brasil e da América Latina especializado em doenças desmielinizantes. Terá quatro edições por ano e os seus artigos serão publicados em português - com os abstracts (resumos) nos idiomas inglês e espanhol. O objetivo é atender ao grande número de alunos, médicos e profissionais de saúde que não atuam na área científica e necessitam de atualização sobre o assunto. O LAMSJ adota as normas editoriais do Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals to International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), e conta com corpo editorial independente, com membros de todas as regiões do Brasil e América Latina, além de pesquisadores da Europa e América do Norte.
Os artigos são de cunho científico-tecnológico originais de Neurologia e Neurociências Aplicadas. Há diferentes categorias de artigos aos quais os textos poderão ser enquadrados, tais como editorial, artigo original, revisão, dilemas clínicos, visão histórica, observações clínicas, diretrizes clínicas, neuroimagem, resumos de teses e dissertações. Os artigos podem ser submetidos por e-mail através do endereço lamsj@uol.com.br, os quais serão avaliados e revisados por pares.
Informações sobre a Esclerose Múltipla
A Esclerose Múltipla tem origem desconhecida e afeta o sistema nervoso central, atingindo geralmente adultos jovens, especialmente mulheres. A doença é causada pela inflamação da bainha de mielina, membrana que reveste os axônios (parte do neurônio), considerada um isolante elétrico que permite a condução mais rápida dos impulsos cerebrais. No Brasil, dos 30 mil pacientes, cerca de 22 mil são mulheres. A proporção mundial é de 1,5 milhão de mulheres e 500 mil homens impactados pela doença. A EM é uma doença crônica e auto-imune (quando o sistema imunológico agride o próprio organismo), que pode ser controlada com a adesão e manutenção do tratamento, evitando a progressão da doença e reduzindo a frequência de surtos, que são imprevisíveis. A evolução da EM se difere de uma pessoa para outra, por isso quanto mais rápido o diagnóstico, melhor o acompanhamento da doença.